Há fotografias especiais.

Está podia ser só mais uma, mas como todas aquelas que partilho, de alguma forma é muito mais do que só uma imagem para mim.

Comecei a surfar com 36 anos, com o mesmo gosto e a mesma atitude que sempre me acompanharam ao longo da vida: desafiar-me e ver no que dá!

Tenho medo do mar.

Não tenho, nem nunca tive facilidade em entregar-me ao seus desígnios.

Hoje, passados anos, acho que percebo que mais do que o medo do mar, o meu medo é não estar em controlo – ou pelo menos na ilusão de que controlo seja o que for!

Tantas vezes dentro de água me dizia, enquanto sentia o coração a saltar-me do peito à entrada do set: “ Preferia, de caras, estar agora num ring de boxe com as minhas luvas bem apertadinhas nas mãos e pés assentes na terra, a levar umas murraças e a dar as que conseguisse, do que aqui, entregue a isto!” 😬

Mas mesmo assim fiquei; nunca fui de virar costas a um belo desafio!

E este desafio era tão diferente…trazia com ele tanta beleza, tanto ensinamento…tantos momentos mágicos sem palavras para descrever.

Ía tão além da superação de um simples desafio, que cedo senti que seria para a vida e que havia algo de muito certo em estar aqui.

E fui-me entregando à experiência.

Umas vezes mais desafiadora, outras vezes mais suave, mas dentro daquilo que podia escolher, fui escolhendo: prancha, mar, fluir e um ritmo que era só meu.

No fundo, fui-me conhecendo no mar.

Assim como na vida…

A necessidade de te entregares ao seu fluir.

O que esse fluir te mostra sobre o que levas mais profundo.

As surpresas que aprendes serem parte dele.

O que já sabes de ti e te permite ultrapassar, gozar, desfrutar.

As sombras que ainda enfrentas e te impedem de te fazeres àquela onda linda do mar.

O que por vezes ganhas ao arriscar.

Esta imagem relembra-me todas as imagens que vi, antes de ser eu aqui.

Esta imagem é confirmação dos passos que vou aprendendo a dar e daqueles que, num alinhamento nem sempre consciente, fui intuindo ao caminhar.

Esta imagem relembra-me a importância de me permitir ser eu.

Esta imagem é prova para mim, acima de tudo, das possibilidades imensas que temos em frente quando, de alma e coração, nos aceitamos e nos damos a legitimidade de darmos os passos que quisermos; …mas no nosso tempo e ao encontro do mais verdadeiro em nós.

Esta imagem lembra-me que o gozo está no caminho e que esse gozo está na entrega a não saberes tudo aquilo que tens em frente.

Hoje tenho 45 e sei que um dia os meus passos me vão levar ao nose daquela prancha e que o meus dedos se vão curvar no seu limite.

Um dia vai ser assim, porque já não sei caminhar sem ser ao encontro de mim!